"Esse blog foi editado 2009 e 2017. Não está mais em operação mas segue como arquivo de algumas de nossas reflexões sobre inovação e estratégia."
Aja duas vezes antes de pensar… (Convidado especial: Pedro Zanni)
maio./2012 | Estrategiando

O título deste post é um trecho da música “Bom conselho” de Chico Buarque, em que ele desconstrói de maneira criativa e provocadora alguns dos nossos conhecidos ditos populares…

Esta frase, cujo conteúdo pode gerar estranhamento, deve parecer especialmente descontextualizada em um blog de pessoas tão envolvidas em processos de planejamento estratégico.

No planejamento empresarial, não deveríamos nos comportar de forma exatamente oposta à que nos aconselha Chico Buarque? Não deveríamos nos debruçar exaustivamente sobre cada alternativa estratégica antes de agirmos?

Não.

Pelo menos é isto que que nos propõe Henry Mintzberg, um dos mais respeitados pensadores em Estratégia Empresarial.

Chico+Mintzberg

Chico e Mintzberg: cada um à sua forma, nos dão um “bom conselho”…

Mintzberg defende não só a validade, mas também o enorme valor das estratégias não planejadas, não pensadas… aquelas que simplesmente acontecem, emergem ao longo do processo…

As “estratégias emergentes” são, segundo o autor, aquelas que apresentam o maior potencial para levar a empresa à inovação. Isto porque envolvem um processo de maior experimentação e abertura ao novo.

Mintzberg defende a não distinção entre o agir e o pensar. A reflexão não deve preceder a ação, mas ocorrer de forma simultânea à ela. Ou até de forma inversa – como nos aconselha Chico –, em que a ação inspire a reflexão.

O processo de agir e pensar simultaneamente é, portanto, o motor do aprendizado estratégico e, consequentemente, da inovação.

No limite, a estratégia pode ser inclusive construída de forma retrospectiva. Ao observar minhas ações, reconheço nelas uma estratégia valiosa, inovadora.

Mas como minimizar os riscos que o conselho de Chico parecem trazer, especialmente no contexto empresarial?

Dentro das ações não planejadas, das experimentações, a melhor forma de assegurar que elas de alguma forma contribuirão para o crescimento organizacional é certificar-se que estas ações estejam alinhadas à identidade da organização, seus princípios e sua razão mais profunda de existir.

Nesta lógica, o caminho para a inovação está muito mais próximo do despreendimento e da ousadia – associados ao auto-conhecimento – do que do planejamento formal

4 comentários a Aja duas vezes antes de pensar… (Convidado especial: Pedro Zanni)

  1. Elaine Almeida disse:

    Boa tarde!!

    Sou ex aluna do Pedro Zanni através do BI International, e tenho que reconhecer que ele foi um dos melhores professores que tive la falando sobre estrategia, concordo que a ousadia é um dos requisito para a Inovação, mas deixo aqui um pergunta para o convidado e para os Nodais, rs
    Vocês enxergam que ja exista uma cultura voltada a criatividade e inovação no Brasil?, se sim, quais padrões vocês reconhecem? quais são os valores, crenças e necessidades que norteiam essa nova cultura?

    Obrigada! abs

    • Puxa Elaine, que pergunta instigante. De bate pronto diria que nossa cultura estimula a criatividade, mas temos barreiras ainda para a Inovação. Me explico, no meu entender, Inovação é o Novo, Implementável, Que gere valor.

      Minha impressão é que somos bons em gerar o novo, ou seja, somos criativos, mas alguns emprecilhos nos dificultam a vida para a implementação e a conversão em algo que possibilite a geração de valor.

      Atacando de sociólogo diria que nossa alta propensão à geração do novo vem de nossa diversidade cultural.

      E por que isso tem dificuldade de ser convertido em Inovação? Ou seja, implementarmos e gerar valor com isso? Hahaha, tenho até minhas hipóteses mas deixo a bola para alguém que se aventure…

      O que vc. acha Elaine?

      • Elaine Almeida disse:

        Olá Luis
        Antes de mais nada quero deixar claro que é minha impressão a respeito, mas justamente o que busco são opiniões diversas sobre o assunto…..
        Minha visão é que mais somos o país do “jeitinho” do que da criatividade, vide nosso governo, que não tem nem 5% das obras para um dos maiores eventos mundiais, e diz que esta tudo sobre controle, e poucas são as empresas que realmente desenvolvem a pratica de estimular um ambiente voltado a criatividade e inovação, as que desenvolvem geralmente atuam fora do brasil pq sabem que la fora a coisa é mais complicada, então a importância de se estimular a inovação é regra não exceção.
        A nossa educação que é totalmente voltada para o logico e analítico não privilegia nossa criatividade o escritor Daniel Pink já comenta isso em seu livro o Cérebro do futuro, somos educados para ser empregados não empreendedores, o conhecimento adquirido escola deveria ser direcionado para a criatividade valorizando nossas inteligencias e aptidões para gerar valor e estimular desenvolvimento.
        A Revista Fast Company publicou as 10 mais inovadoras no brasil mas boa parte tem capital estrangeiro, ou seja a cultura de inovação ja vem impregnada de la, e as que são nacionais atuam no exterior, então fica a pergunta somos mesmo criativos?
        é claro que não vamos generalizar existe sempre a exceção a regra, e pode sim existir empresas que estejam trilhando esse caminho, mas como você mesmo comentou existe muitos empecilhos a inovação a começar pelo governo que ao proteger as industrias não estimula a competitividade e as mantem na zona de conforto.
        Eu vi numa reportagem ontem no Jornal da globo onde um economista relatava que nossa industria esta num estado infante de 60 anos, graças ao governo que ao exercer o protecionismo não estimula a competitividade que exige varias mudanças a começar pela mentalidade.
        Uff acho que começa por ai, o assunto é extenso!, rs

        abs,

        • Pedro Zanni disse:

          Olá Elaine, bacana te encontrar por aqui também… desculpe a demora para responder, mas acabo de voltar de uma maratona de viagens que me deixou meio “desplugado”…

          Essa discussão sobre as diferentes dimensões da criatividade do brasileiro é realmente muito rica… Achei interessante a sua análise deste possível “efeito colateral” da criatividade do brasileiro, manifestada na forma do jeitinho… Gostei também da ponderação do Luis no que tange aos desafios da implementação, que não parece ser um dos pontos fortes da nossa cultura.

          Já pegando o embalo da discussão, aproveito para adicionar mais um olhar nesta análise sobre a criatividade do nosso povo. Acredito que embora os brasileiros sejam – de forma geral – criativos, a maior parte desta energia criativa é canalizada para processos de criação incrementais. Não são, portanto, direcionados a contestar os fundamentos daquilo que está estabelecido, vigente.

          Nesta sentido, falta ao brasileiro uma postura mais inquieta e contestadora, que o leve a canalizar este DNA criativo para processos de transformação cada vez mais profundos e significativos.

          E isso, Elaine, eu acredito que tenha muito a ver com o nosso modelo de educação, como você bem colocou

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