Esse post é inspirado no post anterior, do nosso grande amigo Pedro Zanni, que de forma genial une Chico Buarque a Henry Mintzberg.
Trata-se de uma entrevista com John Mackey, o fundador e presidente do Whole Foods, um verdadeiro ícone do varejo nos EUA.
O artigo original da entrevista está no livro de Henry Mintzberg – Management Não é o Que Você Pensa (Bookman, 2011), sob o título “Conversas de Canto de Escritório”, (pgs. 55 e 56).
ENTREVISTADOR: Era isso que você tinha em mente 25 anos atrás?
MACKEY: Vinte e Cinco anos atrás? Não… Existe essa concepçãoo um tanto equivocada de que tínhamos uma espécie de plano mestre e que segui esse plano mestre elaborado 25 anos atrás, mas… a coisa toda é um processo de descoberta, que fomos desenvolvendo ao longo do caminho.
Não posso dizer como a empresa vai estar daqui a cinco anos. Penso que a maioria dos CEOs que afirma saber como suas empresas estarão em cinco anos também está cometendo um grande erro. Ou está mentindo…
ENTREVISTADOR: Mas você certamente deve ter um plano estratégico para a empresa. Não se trata apenas de tornar-se maior e expandir-se, certo?
MACKEY: Bem, quer dizer, é mais como … imagine um instante…Não é como se tivéssemos um mapa e seguíssemos esse mapa, é mais como se estivéssemos escrevendo esse mapa conforme seguimos em frente. Então continuamos aprendendo e à medida que aprendemos, vamos mudando o plano. Bem vou dar um ótimo exemplo.
Em Junho, vamos inaugurar a maior loja que já abrimos em Londres. A localização é excelente. Se essa loja se sair extremamente bem, como achamos que irá, tão bem quanto, digamos, nossas lojas de Nova York, estão briremos mais lojas no Reino Unido e provavelmente tentaremos mais alguma capital da Europa, digamos Amsterdã, Hamburgo, Paris, Milão, um lugar assim.
Mas, se a loja for um fracasso, certamente vamos ter ter que repensar a agressividade com que iremos entrar na Europa. Então a coisa toda é um grande experimento, e os resultados desse experimento, de certa forma, nos dirão aonde podemos ir. Nossa primeira loja em Nova York foi um grande sucesso . Do contrário não teríamos todas as outras lojas que abrimos em Nova York nem as que estamos por abrir. Então, o plano continua evoluindo. Em outras palavras, continuamos a elaborá-lo conforme adquirimos mais informações.
ENTREVISTADOR: Mas qual era o plano de curto prazo que vocês tinham em mente quando sentaram para conversar e disseram: “vamos abrir uma empresa chamada Whole Foods Market?
MACKEY: Bem, na verdade não tínhamos um plano definido. Minha namorada e eu tivemos a ideia de começar a empresa… porque achávamos que seria divertido. Era uma aventura. Imagine um casal de jovens que estão de mochilas prontas para a Europa e que sabem que terão três meses para passar lá, mas não elaboraram um itinerário completo dizendo exatamente aonde ir, porque não sabem quem irão encontrar nem que tipo de aventuras terão… ( O) Plano só vai se revelar ao longo do caminho. É mais ou menos assim que a Whole Foods foi criada.
ENTREVISTADOR: Mas por que mantimento ou comida? Por que não sapatos, roupas, ou outra coisa qualquer?
MACKEY: Bem, a pergunta é justa. Comecei a me interessar por comida quando tinha mais ou menos 20 anos. Então passei a viver numa cooperativa de vegetarianos… Não era vegetariano, mas calculei que encontraria muitas mulheres por lá. (Risos)
ENTREVISTADOR: E?
MACKEY: E realmente encontrei… Foi lá que encontrei a namorada com quem iniciei a empresa. Então, aprendi a cozinhar e me tornei o responsável pela compra de comida da cooperativa. Adquiri grande interesse por comida; tive uma espécie de despertar para o que havia acontecido com nossa comida ao longo dos anos, (como) ela havia se tornado mais industrializada; adquiri um bom conhecimento sobre alimentos orgânicos, aprendi a cozinhar. Foi assim que comecei a me interessar por comida.
E, então…fui trabalhar em um mercadinho de alimentos naturais. Foi a primeira vez que trabalhei em um estabelecimento desse tipo, e a primeira vez que trabalhei numa loja de varejo – e adorei a experiência. Levei a ideia à minha namorada… “Ei, por que não abrimos nossa própria lojinha”, e ela adorou. Então começamos a incomodar todo mundo que conhecíamos e conseguimos 45 mil dólares.
ENTREVISTADOR: E tiveram alguns problemas reais com a primeira loja?
MACKEY: Não sabíamos no que estávamos nos metendo… perdemos 23 mil dólares ano primeiro ano – metade do dinheiro que havíamos conseguido. Mas, como aprendo as coisas rapidamente, tivemos um pequeno lucro no segundo ano… A primeira coisa que percebi foi que a loja era pequena demais e que, se realmente quiséssemos ser bem-sucedidos e estar em condições de competir, precisávamos nos transferir para um local maior.
ENTREVISTADOR: É engraçado, porque essa não é uma daquelas coisas intuitivas. As pessoas não pensam necessariamente que, se estão administrando um negócio, precisam ficar maiores para ter sucesso.
MACKEY: Foi exatamente o que os investidores me disseram (Risos). Eles me disseram: “Olha John, estamos felizes que você esteja lucrando… Então, por que não continuamos aqui mais alguns anos e recuperamos parte do investimento?”. Eu respondia: Ora, porque acho que, ficando aqui, não seremos competitivos no longo prazo . Ainda assim eles resistiam e basicamente diziam: Veja, não queremos colocar mais dinheiro nisso, mas, se você encontrar outros investidores, vamos reconsiderar. A estratégia básica deles é que não achavam que haveria alguém estúpido o bastante para investir no negócio… (mas) fui muito persuasivo.
MACKEY: Creio que os empreendedores são indivíduos que acreditam realmente em seus sonhos e que conseguem vende-los e persuadir outras pessoas a sonhar com eles.
(…)
ENTREVISTADOR: De fato, acho que li em algum lugar, que pensar inovação ano após ano é a chave para o futuro da Whole Foods, para mantê-la no caminho de crescimento que trilhou até aqui.
MACKEY: Sim, com certeza.
ENTREVISTADOR: E o que há ainda para inovar nesse espaço além da oferta de alimentos mais orgânicos, mais naturais?
MACKEY: O principal é que a Whole Foods tem essa atitude experimental, inovadora, então estamos constantemente tentando coisas novas. Toda loja, de certa forma, é um experimento, e a razão disso ser importante é que, ao contrário de muitas varejistas, digamos … a Starbucks ou o McDonald’s, por exemplo, que surgem com um protótipo de loja e, então passam a reproduzi-lo vezes e mais vezes (não que elas não façam mudanças)mas nós somos como construtores de residências personalizadas… cada loja é única, cada loja é um experimento, cada loja cria novas inovações, de modo que não estamos fazendo a mesma coisa vezes e mais vezes